O Transtorno do Espectro da Neuromielite Óptica (NMOSD) é uma condição desmielinizante inflamatória que compromete principalmente os nervos ópticos e a medula espinhal, mas que também pode afetar outras áreas do sistema nervoso central (SNC). Nos últimos anos, o entendimento sobre as manifestações da NMOSD em crianças evoluiu significativamente, especialmente no que se refere aos anticorpos AQP4-IgG e MOG-IgG, que desempenham papéis cruciais na apresentação clínica da doença.
Uma revisão recente destacou a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para crianças com NMOSD, propondo recomendações para a avaliação clínica e acompanhamento dessas crianças. Estima-se que a NMOSD pediátrica represente de 3% a 5% de todos os casos da doença, com a maioria dos pacientes sendo meninas. Embora a incidência de NMOSD não seja bem caracterizada, estudos sugerem taxas que variam de 0,05 a 4 por 100.000 por ano, com variações significativas entre regiões geográficas.
Dados de Saúde na Infância no Brasil
No Brasil, a saúde infantil enfrenta desafios significativos. Dados do Ministério da Saúde indicam que a mortalidade infantil, embora tenha diminuído nas últimas décadas, ainda apresenta taxas que podem chegar a 12,4 por mil nascidos vivos em algumas regiões. Doenças infecciosas e parasitárias, assim como desnutrição, continuam a ser problemas relevantes, afetando o desenvolvimento das crianças.
Além disso, um estudo realizado em 2021 mostrou que as doenças autoimunes estão em ascensão, e a NMOSD é uma dessas condições que, embora rara, exige atenção especial. A alta prevalência de condições como a síndrome de Sjögren e outras doenças autoimunes em crianças brasileiras ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar no diagnóstico e tratamento de síndromes como a NMOSD.
Manifestações Clínicas
As manifestações clínicas da NMOSD em crianças incluem neurite óptica, que ocorre em 50% a 75% dos casos, e mielite transversa, em 30% a 50%. Estudos indicam que anticorpos MOG-IgG são frequentemente encontrados em crianças que apresentam sintomas de neurite óptica e mielite transversa, sugerindo um perfil clínico distinto em relação aos adultos. Aproximadamente 40% dos pacientes com neurite óptica positiva para MOG-IgG não apresentam AQP4-IgG, o que é crucial para o diagnóstico.
Além das complicações relacionadas à visão e à medula espinhal, as crianças também podem apresentar síndromes agudas do tronco cerebral e outras disfunções neurológicas. A apresentação da síndrome da área postrema, que inclui vômitos persistentes, é particularmente relevante, pois pode indicar a presença de NMOSD.
Recomendações para Tratamento
O tratamento do NMOSD pediátrico deve ser individualizado, considerando as características específicas de cada paciente. As opções incluem terapias imunomoduladoras, como a imunoglobulina intravenosa (IVIG), rituximabe, micofenolato mofetil e azatioprina. A abordagem terapêutica deve ser iniciada rapidamente, especialmente para pacientes com anticorpos AQP4-IgG, que têm um alto risco de recorrência.
Além disso, novas terapias estão em desenvolvimento, como eculizumabe, que inibe o complemento C5, e anticorpos monoclonais contra o receptor de IL-6, que mostram potencial promissor no tratamento de NMOSD.
Com a crescente compreensão das manifestações pediátricas da NMOSD, é essencial que neurologistas e especialistas em cuidados pediátricos estejam atentos a esses sinais e sintomas. A detecção precoce e o tratamento adequado são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das crianças afetadas e reduzir o risco de complicações a longo prazo. No Brasil, a necessidade de uma abordagem integrada na saúde infantil é mais evidente do que nunca, e a contínua pesquisa e a atualização sobre novas terapias são cruciais para oferecer o melhor cuidado possível a essa população vulnerável.