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Os novos coloridos da vida

Peguei o lápis para escrever este texto, ação que acompanhou minha jornada por esses anos todos… quanto tempo esse simples gesto corriqueiro não acontecia… pensei. Nossa, quanto tempo já não escrevia?

Lembrei da letra, inspirada em minha professora de francês Mari D’Plat, hoje, essas minhas letras não são tão bonitas e firmes nem desenhadas nem belas.

Escrever, mas sobre o quê ? As angústias estão mais  fortes do que as inspirações, contudo as lembranças e a vontade estão , na maioria das vezes, se sobrepondo.

E chegou a hora de recomeçar, mesmo que o corpo físico não seja mais o mesmo, pois nasce uma vontade de demonstrar que há novas oportunidades, novos viveres… tudo novo…

Escrevo da praça de Águas de Lindóia, cidade vizinha à minha, Monte Sião – Minas Gerais, praça da qual poderia descrever os cisnes dos olhos azuis querendo o pão dos turistas e seus grunhidos que ecoam, são casais e famílias deles, nadando de um lado ao outro entre as embarcaçãoes de pedalinhos. Ou falar das famosas capivaras já acostumadas à presença humana, mas… não cheguem perto dos filhotes, só se for bom de corrida, pois as mamães correm bem para protegerem seu filhinhos.

     

Mas a você que me lê, eu ficaria lhe devendo os detalhes, as cores, que agora me escapam da visão turvada, entretanto moram nas lembranças.

Em minha outra vida , que foi boa, contudo não soube aproveitar, essas imagens agora fazem modada. Li um poema de Jorge Luis Borges que falava desses “instantes”, ele cego, eu, agora, baixa visão e monocular, “instantes” que passavam e não voltam mais.

Não devíamos ficar presos ao nosso cérebro , mas sim livres em nossas emoções , sabendo dominá-las , livres em nossos pensamentos.

Detalhes , já não os vejo mais, agora estou aprendendo a aproveitar os momentos e ressignificar  meus belos “instantes manchados”, sem cor. Enxergar agora, com o universo da alma, momentos para serem vividos ou aprender a viver.

Não posso reviver instantes que se passaram, os ruins , nem queria mesmo, e os bons… já correram pelas areias do tempo. Viver com outros olhos agora, os quais a NMO me presenteou.

Hoje, momentos sem cor para valorizar os instantes, conscientizar-se de que o tempo voou e não soube aproveitar, agora, tento aprender a aproveitá-los com sentidos e significados verdadeiros, não mais fantasiosos.

Assim tento, assim procuro…

O instante agora, é momento de aprender, de ouvir, de sentir… e principalmente de aceitar. Aproveitá-los , pois não sei quantos me sobraram ainda, só posso contar os qua já foram, sabendo que não me é um final, mas sim um recomeço.

Lembra do lápis? Agora eu sei o que devia escrever: que há um recomeço, a única forma de aproveitar os “instantes”, “como se não houvesse amanhã, pois na realidade , não há”… como cantava Renato Russo.

Aproveite, desfrute.

*Flávio Lopes de Lima, professor de língua portuguesa, diagnosticado com NMO em novembro de 2022.

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